segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Meus amores...
































Nenhum cachorro jamais falou, mas isso não quer dizer que
eles
vivam fora do mundo da palavra. Eles escutam atentamente.
Querem
ouvir uma palavra – “biscoito”, “passear” – e uma inflexão
que conheçam.
Que
torrente de signos incompreensíveis passa por eles
enquanto esperam,
pacientes, por uma ou algumas palavras conhecidas!
Como não falam, a não
ser
da maneira mais limitada, sempre
estamos tentando decifrá-los. A
expressão é
reveladora: “decifrar”, inventar
metáforas para nos ajudar a
entender o
mundo. Quem decide
viver com um cachorro aceita participar de
um longo
processo de interpretação
– um acordo mútuo, apesar de o ser
humano estar com
a
maioria das cartas.


Mas a verdade pura é que ninguém deveria ter
de justificar o
que ama. Se eu decidir me tornar um desses idosos caducos
que vivem
sozinho com seis beagles, quem será prejudicado pelo extremismo
de meu afeto?
Há tão pouca dedicação no mundo que deveríamos
nos alegrar
quando ela aparece sob qualquer forma, e nunca zombar
dela
ou subestimar sua
profundidade.
O amor, acredito, é um acesso ao
mundo, e não uma fuga
dele.

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